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Fotos de 1999 e 2000, sendo a última o fatídico dia em que senti vergonha da minha barriga pela primeira vez. |
Aos 15 anos, entrei na academia determinada a moldar meu corpo ao padrão que eu tanto admirava: pernas mais grossas e cintura fina. Foi nessa fase que vivi uma experiência traumática de assédio por parte de um instrutor, o que me afastou da musculação por anos. Mesmo assim, continuei tentando me encaixar. Enquanto minhas amigas usavam biquínis, eu escondia meu corpo em maiôs ou camisetas largas. Cresci com a ideia de que só corpos magros e esculpidos eram bonitos e aceitos. Mesmo no auge da minha magreza eu me olhava e não estava satisfeita com meus contornos.
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Foto de 2013 e eu seguia detestando meu corpo, achando que eu ainda estava com barriga demais. |
A relação com o meu corpo piorou após 2016. Com o luto pela perda do meu pai, perdi 10 kg rapidamente após o ocorrido. Poucos meses depois, vieram 20 kg a mais, fruto das barras de chocolate (hershey's cookies and cream) que eu comia TODAS as noite de maneira compulsiva. Passei a viver um ciclo destrutivo, onde a alimentação era meu conforto e o álcool, um escape. Com meus 1,61m, cheguei ao meu maior peso: 78 kg. A cada dia, eu me sentia mais distante do corpo que desejava, mas também não encontrava forças para fazer algo por mim.
Olhando para trás, percebo que minha dismorfia corporal é muito mais complexa do que apenas não gostar de uma parte do meu corpo. É como um filtro distorcido através do qual eu me vejo. Para quem não sabe, o transtorno dismórfico corporal é um problema psicológico sério, onde a pessoa fica obcecada por falhas no corpo, reais ou imaginárias. Estudos mostram que essa condição pode afetar até 2% da população mundial, impactando profundamente a autoestima, as relações sociais e até a saúde mental.
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Tirar foto pra ver se minha barriga estava grande ou não se tornou uma rotina bizarra. |
Ao longo dessa jornada, também percebi como relacionamentos afetaram minha percepção de mim mesma. Lembro de um ex-namorado que disse que eu não estava mais “exalando sensualidade”. Essa frase me marcou porque, naquele momento, eu não me sentia confortável comigo mesma. Ser sexy era a última das minhas prioridades; eu estava lutando para sobreviver emocionalmente e financeiramente. Ouvir aquilo apenas reforçou a ideia de que meu corpo era insuficiente, para ele, para o mundo, e principalmente para mim. Eu entendo que a sensualidade vai além de ter um corpo padrão, mas pra mim estava intrinsicamente conectado com o que via no espelho.
Hoje, estou aprendendo a mudar essa narrativa. Sei que o cuidado com o corpo não deve ser apenas estético, mas também sobre saúde e qualidade de vida. Perdi 7 kg recentemente, algo que meu nutricionista disse ter sido rápido demais (ele até me orientou dos perigos disso), mas, pela primeira vez, não é só o número na balança que importa. Estou focada em cuidar de mim como um todo, dentro e fora.
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Foto de 2018: A única de maiô e ainda escondendo a barriga... |
Se tem algo que aprendi, é que meu valor não está em agradar os outros ou corresponder às expectativas alheias. Meu corpo é a prova viva da minha história e das minhas lutas internas. E, embora ainda seja um desafio, estou aprendendo a ser gentil comigo mesma. Não quero mais viver escondida atrás de roupas pretas que "emagrecem" (apesar de já ter se tornado parte da minha personalidade) ou me comparando com outras pessoas. Quero ser minha melhor versão para mim, não para caber em padrões ou agradar terceiros.
O processo de aceitação não é linear, mas, pouco a pouco, vou derrubando essas barreiras que construí ao longo dos anos. Hoje, escolho me amar do jeito que sou, aceitando meu corpo e minha genética enquanto trabalho para ser a pessoa que quero ser, não por pressão, mas realmente por autocuidado. Afinal, o amor próprio também é uma forma de resistência em um mundo que insiste em nos fazer sentir insuficientes de tantas maneiras diferentes.