Panela de pressão #diary08



É meio surreal estar escrevendo isso, mas sinto que, pela primeira vez em muito tempo, voltei ao meu eixo. Como muita gente próxima sabe, eu passei por uma fase bem conturbada que começou lá em 2016, quando meu pai faleceu. Durante muito tempo, tentei não enxergar isso como o marco que mudou minha vida, mas a verdade é que foi. Parece que existem duas versões de mim: antes e depois da perda. E como eu descreveria essa "nova versão"?

De forma simples, diria que me senti como um pintinho forçado a crescer rápido, tomando hormônios para se fortalecer antes do tempo. Foi como pular etapas importantes da vida. Desde então, parecia que nada dava certo. Pelo menos era assim que eu enxergava. Sempre faltava algo, e todo esforço de sobrevivência parecia insuficiente. E acho que essa é a palavra exata: sobreviver. Porque viver, de verdade, foi algo que ficou em segundo plano. Inclusive, relendo alguns textos daqui do blog de 2021, vejo que era uma preocupação a maneira como eu vinha levando a vida modo survival…e realmente não me dediquei a mudar isso.

Não posso dizer que não aproveitei coisas boas ao longo do caminho, aproveitem sim, mas sempre foi com uma sombra atrás de mim. Uma sombra que eu mesma criei, julgando cada escolha, com medo de errar ou projetando minhas inseguranças em como seria vista, o que achariam de mim. Eu sentia que, dali em diante, era só eu comigo mesma. Bom, na verdade, era e sempre foi. Só que o peso de falhar era sempre dobrado. Na minha cabeça, eu pensava: "Se meu pai estivesse aqui, ele não aprovaria, ou não seria desse modo...” Achava que não sabia ser uma adulta exemplar/funcional por conta própria.

E como lidar com esse peso enquanto a depressão e a ansiedade te sufocam? Em dias em que você só quer existir, parece que precisa de uma energia 10x maior só para atravessar UM único dia. Tudo é intenso demais, grande demais, pesado demais. E aí você soma isso ao fato de eu ser uma pessoa altamente sensível, onde sentimentos e emoções são sentidos e levados em consideração em uma proporção absurda.

Sentia como se eu fosse uma panela de pressão no fogo, pronta para explodir. Desde 2016, sinto que venho correndo uma maratona interminável, com algumas pausas entre colinas e vales. Mas só agora, 8 anos depois, percebo que não deveria ser assim.

Se eu fizesse uma linha do tempo, os momentos mais marcantes seriam: a morte do meu pai, trancar a faculdade, virar empresária e arrimo da família, perder minha avó, tomar a decisão mais difícil que foi fechar a empresa criada pelo meu pai, voltar a estudar, lidar com um luto tardio que me levou à depressão, me formar, encerrar um relacionamento de 5 anos à distância, enfrentar a pandemia sem ter muita renda, mergulhar em um relacionamento curto durante a pandemia, terminar esse relacionamento, ter meu carro roubado, entrar em outro relacionamento no fim da pandemia, ficar desempregada por cinco meses, começar uma nova profissão, tentar conciliar duas carreiras e, por fim, encerrar mais um relacionamento, este de quase 3 anos.

Você pode se perguntar: "Por que relacionamentos amorosos são tão marcantes para você?" Porque é neles que me permito ser mais vulnerável, onde me mostro por inteira. Quando acabam, é realmente um luto pra mim. É uma ferida no ego, uma sensação de que não fui aceita na minha versão mais sincera e crua e daí pra frente, só pra trás.

Depois de tudo isso, sinto que agora, finalmente, consigo respirar. Consigo olhar para trás e perceber o quanto foi difícil, o quanto tive que aprender a lidar com tudo sozinha: questões financeiras, jurídicas, minhas próprias incertezas, sabendo que qualquer decisão impactava não só a mim, mas também minha mãe. Foi uma corrida de perdas e ganhos.

Antes de 2016, eu sentia que tinha uma base forte, alguém a quem recorrer. Depois disso, simplesmente fui... do jeito que deu, alternando entre meus melhores e piores lados. Meu maior erro foi ignorar o que se passava dentro de mim. Eu me forcei a ser forte o tempo todo, como se não tivesse o direito de pedir ajuda, condenando demais meus erros. Contava com terapia e amigos para aliviar um pouco, mas ainda assim carregava o peso de tentar ser exemplo, de não preocupar ou demonstrar fraqueza.

Agora, em novembro de 2024, finalmente sinto que estou abrindo a tampa dessa panela de pressão. Pela primeira vez, estou olhando para mim mesma com mais carinho, reconhecendo meu valor e me auto validando. Durante muito tempo, busquei a validação dos outros, como se só assim minha existência tivesse sentido. Era como se eu precisasse provar meu valor a todo momento, vivendo como alguém que busca argumentos para defender sua própria tese.

Hoje, percebo o quanto isso me desgastou. Aprendi que preciso reconhecer minhas próprias marcas de guerra, mesmo que nem sempre goste delas. Elas fazem parte de quem sou. Meu corpo mudou, minha maneira de lidar com a vida também. E ai de tanto olhar pra fora eu olhei pra dentro e me perguntei ˆo que estou fazendo por mim, para mim?” Para algumas pessoas isso pode ser algo tão simples de enxergar, principalmente se não tiverem tantas preocupações rondando a cabeça 24/7...pra mim, pensar em mim vinha em segundo plano, meu instinto protetor me fazia olhar e cuidar de quem estava a minha volta e só.

Minha jornada até os 32 anos foi dura e cheia de aprendizados. Aprendi que não posso me abandonar, por nada nem ninguém. Não devo mendigar amor, afeto ou reconhecimento. Tudo isso precisa começar em mim. Parar, respirar e me cuidar. A cruz que carrego não pode ser depositada em pensamentos destrutivos, compulsões ou vícios. Preciso respirar e continuar, vivendo a autoaceitação, o autocuidado e o amor próprio.

Tudo é um processo. E finalmente estou disposta a vivê-lo plenamente.

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