Literatura - O filho de mil homens - Valter Hugo Mãe


Hoje vim falar de um dos meus livros preferidos da vida e que eu acho que todo mundo deveria ler: O Filho de Mil Homens, de Valter Hugo Mãe. Li esse livro há alguns anos atrás, ainda vivia em Presidente Prudente e estava finalizando a faculdade, fazendo terapia e entendendo as minhas limitações dentro das minhas descobertas psicológicas. Pra quem não sabe, em 2019 eu fui diagnosticada com depressão e ansiedade e desde então tomo medicamentos (infelizmente tive que interromper a terapia por motivos de lack of money, mas pretendo voltar assim que possível com o meu psicólogo querido, Dimitri, aliás saudades).

E dentro desse contexto eu li esse livro que me trouxe tantas reflexões e emoções. Adorei a escrita do autor e fiquei comovidíssima pela história, na maneira como os personagens são bem construído e a forma como suas histórias se entrelaçam dentro da narrativa. É simples e profundo, comovente e humano, e de verdade traz trechos tão poéticos, tão inesquecíveis que vou deixar aqui alguns dos que mais gosto pra vocês verem o nível dessa obra. Esse livro me faz lembrar de que podemos apreciar a vida de um modo mais simples e leve, mesmo com os vazios e silêncios que às vezes nos rodeiam, viver sem nos pressionar tanto, sem nos cobrar tanto pelo o que os outros esperam, do que nós idealizamos para nós mesmos... Espero que mais pessoas tenham contato com essa história linda e possam também tirar reflexões sobre a vida, sobre afetos e sobre nossa própria humanidade. 

Sinopse

A solidão, para Crisóstomo, é um filho que não se tem. Aos quarenta anos, o pescador decide buscar o que lhe falta. Vai encontrar no jovem Camilo, órfão de uma anã, a chance de preencher a metade vazia, e em Isaura, enjeitada por não ser virgem, a possibilidade de ser mais do que completo. Com personagens tão excêntricos quanto humanos, que carregam suas tragédias com lirismo e ingenuidade, o festejado Valter Hugo Mãe povoa o vilarejo litorâneo onde a vida é levada com singela tristeza e a esperança do amor faz surgir uma alegria pequena, mas firme, porque construída com o possível. (Fonte: Link)

O luso-angolano Valter Hugo Mãe é um dos romancistas mais prestigiados da atualidade. José Saramago, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, referiu-se ao autor como um tsunami linguístico. De fato, a escrita de Mãe explora com maestria toda a potencialidade e beleza da língua portuguesa. (Fonte: Link)

Trechos

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"Estava sozinho, os seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas metade dos olhos, metade do peito e metade das pernas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar às pessoas. Via-se metade ao espelho e achava tudo demasiado breve, precipitado, como se as coisas lhe fugissem, a esconderem-se para evitar a sua companhia. Via-se metade ao espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e de silêncios como os precipícios ou poços fundos. Para dentro do homem era um sem fim, e pouco ou nada do que continha lhe servia de felicidade. Para dentro do homem o homem caía."

"[...]e sonhava tão grande que cada impedimento era apenas um pequeno atraso, nunca uma desistência ou a aceitação da loucura. Pensava que quando se sonha tão grande a realidade aprende."

"Não importaria que tivesse um passado triste. O passado não corre. O doutor pensava o contrário. Pensava que o passado tinha pernas longas e corria, sim, e muito, como um obstinado a marcar a sua presença, a sua herança. O passado é uma herança de que não se pode abdicar, disse o doutor."

"Nunca limites o amor, filho, nunca por preconceito algum limites o amor. [...] porque é o único modo de também tu, um dia, te sentires o dobro do que és."

Mood de leitura: Playlist 


Meu encontro com o autor na Bienal do Livro 2022 ♥ 


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