Naquela época, havia a escolha de estar online ou offline. E hoje? A gente vive conectado o tempo todo, sempre disponíveis e às vezes fico pensando como seria simplesmente estar um dia todo em casa sem qualquer gadget por perto. Parece bizarro, né? É como se a vida analógica tivesse perdido parte do seu charme para a hiperconectividade. E foi só recentemente, depois que minha TV quebrou (e ainda não decidi se vou comprar outra), que percebi o quanto o tempo “desplugado” é valioso.
Sem a TV, comecei a reparar em como eu me acostumei em alternar sem parar entre a pequena tela na mão e a grande tela na parede. Como se nada mais interessante existisse, como se precisasse estar a par de tudo, atualizada de tudo e o mundo digital fosse o único que importava estar presente. E foi essa percepção que me fez parar, refletir e, finalmente, me permitir focar em outras coisas. Amo artesanatos e tenho muitos hobbies, quis aprender coisas novas, desenvolver habilidades que já tinha como tocar ukulele, pintar, cerâmica, bordado, jardinagem…e claro, colocar minhas mil leituras em dia. E cara, que alívio começar a fazer isso.
O digital tem sua magia, claro, é infinito de informações, conhecimentos, entretenimento... Mas também tem uma armadilha: no mundo virtual, todo mundo é o que escolhe mostrar, não o que realmente é. E esse ciclo de construir e alimentar uma persona pode ser muito tóxico, atrasando nosso próprio autoconhecimento, nos baseando em outras pessoas, criando e desejando ser um personagem perfeito de acordo com o que vemos, não exatamente o que somos, precisamos e queremos ser. A gente se perde em versões de nós mesmos que, na verdade, nem existem.
No podcast "De Saída – A vida fora da internet", do Chico Felitti e da Beatriz Trevisan (amo o trabalho deles!), eles entrevistam a Jout Jout, uma personalidade que decidiu largar a vida digital para viver 200% offline. No segundo episódio, ela menciona o livro "Nação Dopamina", da Dra. Anna Lembke, psiquiatra e professora da Universidade de Stanford. O livro aborda como estamos programados para buscar estímulos de prazer imediato, mas que, ironicamente, acabam nos afastando da verdadeira felicidade. Um vício que nos desconecta da vida plena, real e comunitária. Fiquei tão impactada que já coloquei o livro como minha próxima leitura, assim que terminar a trilogia do amor da bell hooks, que, aliás, tem sido uma jornada transformadora por si só.