Desconectando... #diary13



Lembro como se fosse ontem... Madrugada na sala, o brilho do monitor deixava meus olhos até vermelhos. E lá vinha meu pai ou minha mãe, quase como um ritual, reclamar que eu estava há tempo demais online, ameaçando puxar o fio da tomada. Eu chegava da escola, fazia meus deveres, assistia TV, brincava, lia…e quando a velocidade da internet estava mais rápida a noite, eu ia para o computador aprender tutoriais de html e templates no photoshop para criar meu próprio blog, eu amava isso e tinha só 12 anos. E, confesso, essa rotina noturna continua comigo até hoje. Existe algo de mágico na noite silenciosa, na ausência de distrações e barulhos. É como se o mundo dormisse e eu ganhasse o espaço necessário para existir com mais calma. Inclusive, esse texto nasceu nesse cenário notívago.

Naquela época, havia a escolha de estar online ou offline. E hoje? A gente vive conectado o tempo todo, sempre disponíveis e às vezes fico pensando como seria simplesmente estar um dia todo em casa sem qualquer gadget por perto. Parece bizarro, né? É como se a vida analógica tivesse perdido parte do seu charme para a hiperconectividade. E foi só recentemente, depois que minha TV quebrou (e ainda não decidi se vou comprar outra), que percebi o quanto o tempo “desplugado” é valioso.


Sem a TV, comecei a reparar em como eu me acostumei em alternar sem parar entre a pequena tela na mão e a grande tela na parede. Como se nada mais interessante existisse, como se precisasse estar a par de tudo, atualizada de tudo e o mundo digital fosse o único que importava estar presente. E foi essa percepção que me fez parar, refletir e, finalmente, me permitir focar em outras coisas. Amo artesanatos e tenho muitos hobbies, quis aprender coisas novas, desenvolver habilidades que já tinha como tocar ukulele, pintar, cerâmica, bordado, jardinagem…e claro, colocar minhas mil leituras em dia. E cara, que alívio começar a fazer isso.

O digital tem sua magia, claro, é infinito de informações, conhecimentos, entretenimento... Mas também tem uma armadilha: no mundo virtual, todo mundo é o que escolhe mostrar, não o que realmente é. E esse ciclo de construir e alimentar uma persona pode ser muito tóxico, atrasando nosso próprio autoconhecimento, nos baseando em outras pessoas, criando e desejando ser um personagem perfeito de acordo com o que vemos, não exatamente o que somos, precisamos e queremos ser. A gente se perde em versões de nós mesmos que, na verdade, nem existem.

No podcast "De Saída – A vida fora da internet", do Chico Felitti e da Beatriz Trevisan (amo o trabalho deles!), eles entrevistam a Jout Jout, uma personalidade que decidiu largar a vida digital para viver 200% offline. No segundo episódio, ela menciona o livro "Nação Dopamina", da Dra. Anna Lembke, psiquiatra e professora da Universidade de Stanford. O livro aborda como estamos programados para buscar estímulos de prazer imediato, mas que, ironicamente, acabam nos afastando da verdadeira felicidade. Um vício que nos desconecta da vida plena, real e comunitária. Fiquei tão impactada que já coloquei o livro como minha próxima leitura, assim que terminar a trilogia do amor da bell hooks, que, aliás, tem sido uma jornada transformadora por si só.

E é isso que estou comprometida a fazer: me desconectar mais para reconectar. Reconectar comigo, com as pessoas, com o mundo à minha volta. Porque há tanta beleza, tanta coisa viva esperando para ser descoberta. Não quero mais desperdiçar meu tempo olhando para telas que só me mostram realidades filtradas, algoritmos que me deixam cada vez mais isolada em uma bolha. Quero ver os sorrisos de amigos, os abraços afetuosos, sentir cheiros e sabores conhecidos e desconhecidos, ver cores, formas, texturas...usar todos os meus sentidos para sentir minha existência. Quero viver e aproveitar o aqui e agora.

O filme Perfect Days (Dias Perfeitos), de Wim Wenders, traz muito dessa vibe offline, de apreciar as pequenas belezas do cotidiano...e de uma pessoa que escolheu uma vida mais condizente com o que queria e acreditava, mesmo que não fosse o esperado pela família ou sociedade. O filme é lindo e recomendo demais!

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