Amor, dor e a solidão #diary07

Summer In The City (1949) - Edward Hopper. Sou completamente apaixonada pelas obras deste artista que retrata de uma maneira tão bela e profunda a solidão.
Sempre fui fascinada pela filosofia e pelo ato de refletir sobre o mundo, o indivíduo e o coletivo — um caminho essencial para compreender a vida e, especialmente, a mim mesma. Esse processo de autoconhecimento é infinito; cada momento oferece novas descobertas, ações e reações, formando um aprendizado eterno, e ultimamente venho tentado entender mais sobre a solidão.

Quem somos quando ninguém está olhando? Como nos relacionamos com nossa própria companhia, nos bons e maus momentos? A cada quebra de rotina, especialmente nas experiências de luto — seja o luto da morte ou da perda — retorno a esse espaço de reflexão. Essas situações me levam a questionar quem realmente sou, o que carrego comigo, o que sacrifiquei e o que recebi em troca. Como lidar com a ausência de quem fui ao lado de outra pessoa? Só eu posso responder a essas perguntas, pois apenas eu compreendo plenamente o que sinto e penso; esperar que alguém me entenda por completo é um erro.
Nos caminhos da vida, encontramos a nós mesmos repetidamente em mil disfarces. - Carl Jung
Recentemente, passei por mais um término de relacionamento amoroso, marcado por lágrimas, gratidão, culpa, raiva e uma sensação de desesperança. Dói, e dói muito — e essa dor, inevitavelmente, faz parte do amor. Viver essa dor é um processo de crescimento, desde que aceitemos senti-la. Amar alguém de verdade, não apenas com uma paixão passageira, exige coragem, ação (como diz bell hooks) e a aceitação dos altos e baixos que acompanham o amor.

Ah, bem melhor seria poder viver em paz
Sem ter que sofrer, sem ter que chorar
Mas tem que sofrer, mas tem que chorar
Mas tem que querer pra poder amar
— Vinícius de Moraes

É aí que entra a solidão, presente na minha vida mais vezes do que posso contar, e que se intensifica especialmente nestes momentos de rupturas abruptas. No entanto, é apenas ao aceitá-la que podemos explorar nossas profundezas e enfrentar o desconhecido — uma tarefa cada vez mais difícil, considerando que vivemos em uma realidade constantemente bombardeada por estímulos de socialização. A qualquer momento, posso falar e conhecer outra pessoa pelo celular, abafando esse processo de autoconhecimento e tentando seguir em frente.




Estamos imersos na chamada "modernidade líquida" de Bauman, em que tudo se torna volátil e superficial, inclusive aquilo que acreditamos ser amor. Amar de verdade hoje é quase um desafio; quem escolherá estar ao nosso lado quando é tão fácil substituir a presença de alguém quando às vezes é necessário um mínimo de esforço e comunicação para cuidar deste sentimento? E reforço a palavra presença, pois as pessoas em si são insubstituíveis. Cada um é composto de fragmentos de todas as pessoas que passaram por sua vida, e é isso que nos torna interessantes de explorar e conhecer.

Cena do filme "Nostalgia" de Andrei Tarkovsky, um dos meus diretores favoritos, que retrata a solitude de forma tão poética. Inclusive recomendo este vídeo do mesmo falando sobre o tema, tem a tradução completa nos comentários.
Esses temores me assombram sempre que escolho me relacionar e permitir amar. Vi meus últimos relacionamentos terminarem como mercadorias com prazo de validade, rapidamente substituídas. Reflito, tento entender o que faltou, mas muitas vezes a resposta realmente não está em mim. Ainda assim, esses momentos me ensinam a valorizar a solitude e a não temer a solidão, ajudando-me a reconhecer, melhorar e a amar a mim mesma. Sei que nunca estarei sozinha enquanto souber acolher minha própria companhia, navegando entre as marés — às vezes calmas, outras vezes turbulentas — da minha própria existência.

Que minha solidão me sirva de companhia
E eu tenha a coragem de me enfrentar
Que eu saiba ficar com o nada
E mesmo assim me sentir
Como se estivesse plena de tudo

— Clarice Lispector

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